terça-feira, 4 de agosto de 2009

A janela!

Em um dia que estava mais escuro do que o normal, Hellena pegou uma folha de papel e foi-se a escrever, era praticamente impossível saber o que ela estava escrevendo.
A expressão de seus olhos e boca eram as mesmas, como se uma completasse a outra. Parecia aquela mesma Hellena de todos os dias, mesmas roupas, mesmos sapatos, hábitos e olhares.
Olhava pela janela a cada linha que escrevia, amassava uma folha a cada duas linhas, pegava outra, escrevia mais duas e amassava como as outras mil falhas que já estavam no lixo.
Sua mãe chegou em casa cansada, ligou a musica predilecta no quarto, passou na frente do quarto de Hellena, viu que ela estava escrevendo com a mesma dedicação de sempre e resolveu não atrapalhar. Entrou debaixo do chuveiro pretendendo não sair de lá tão cedo.
E Hellena com o olhar de sempre, não só o olhar, mas também o mesmo, o bâtom vermelho que havia pegado escondido de mãe umas duas semanas atrás, esta já tinha o costume de ver a filha usando. Hellena pensava enquanto escrevia, já escreveu muitas coisas em sua curta vida, Hellena sempre dizia que escreveu mais do que viveu, e muito provavelmente estava certa no que disse, tinha mais cadernos escritos de seu punho do que anos de vida, e se orgulhava muito disso!
A mãe de Hellena também escrevia cadernos quando tinha a sua idade, mas não tantos quanto Hellena havia escrito "...e quando começava não parava mais..." sempre dizia a mãe de Hellena quando conversavam. Depois que de se casar ainda escrevia algumas coisas, mas com a correria do trabalho e com a morte do marido, deixou de escrever definitivamente.
Naquele dia a mãe de Hellena tomou um banho demorado, Hellena tentou esperar um pouco até que a mãe saísse, mas não podia, achava que já estava atrasada, deixou o bilhete que gostaria de entregar pessoalmente encima da cómoda onde escrevia e fez o que ia fazer.
A sua mãe saiu exatos cinco minutos depois de Hellena a esperar na porta do banheiro, falou sozinha por uns dois minutos até que percebeu que estava sozinha em casa, chamou por Hellena sem resposta, entrou no quarto e viu o bilhete que dizia.

" Esse é o melhor que posso fazer por mim ... "

Seguido de um desenho alegre de uma menina feliz, isso tranquilizaria a mãe se não fosse a marca molhada encima do papel, logo em seguida se tomou de um desespero cortante, e do medo do pior, assim que a primeira gota chegava ao meio de sua face, ouviu o som da campainha tocar, correu e atendeu a porta, desmoronou assim que o zelador do condomínio pronunciou em um tom aflito e horrorizado.

- A Hellena...

Foram essas poucas palavras que gritavam em sua mente que lesse agora os cadernos de sua filha, e nem se preocupou em ouvir o resto da frase, deu um grito e correu para o quanto da filha, onde o vento revirava as paginas do caderno ainda incompleto, na ultima folha se estabelecia a tragédia, a frase mais cruel do que a do zelador.

" E no desejo de voar estendeu suas fracas asas e se foi. Pela eternidade as manteve abertas! Porem não saiu do chão."

Que se seguiu de lágrimas e na corrida desesperada da mãe até a janela, que do 19º andar, via o corpo de Hellena espalhado no chão.

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